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  • Foto do escritorGabriela Braun

Afinal, a culpa é quem?

Quem me conhece um pouco melhor sabe que o meu desejo de ser mãe é algo que carrego comigo desde a infância. É engraçado pensar sobre isso, mas mesmo quando eu era muito pequena já dizia que queria ter muitos filhos. Em alguns momentos da minha jornada eu tive certeza que gostaria de educar meus filhos sozinha, sem um pai por perto, visto que, na minha opinião, naquele momento da minha vida, eles só atrapalhavam. Eu estava tão convicta dessa ideia que, em dois momentos da vida, eu decidi ser mãe sozinha. Felizmente, o universo não me permitiu ser mãe nesses momentos.


Aos 35 anos de idade, quando me tornei mãe do Rafael, eu compreendi a importância do pai na vida da criança e de se ter um companheiro nessa jornada doida que é criar e educar um ser humano. E sabe o que eu me dei conta? Que, muitas vezes, nós mães excluímos o pai do seu papel de pai e depois jogamos em cima deles toda a nossa frustração e raiva por termos que dar conta sozinha da casa, dos filhos e de todo o resto.





Antes de você desistir da leitura desse texto deixa eu me explicar. Vivemos em uma sociedade predominante machista, sim é verdade. As mulheres precisaram se arriscar, lutar, muitas foram mortas, para conquistar seu espaço e ter o direito de falar. Em muitas culturas isso ainda sequer existe. Conquistamos o direito de trabalhar fora de casa e ser remuneradas para isso, mas ainda precisamos provar todos os dias que somos tão capazes quanto os homens para assumir cargos de alta responsabilidade. Falamos abertamente sobre dividir custos na manutenção da família, mas ainda lutamos pelo direito de uma divisão igualitária de tarefas dentro dos nossos lares. Conquistamos o direito de ter uma carteira de motorista, mas ainda ouvimos “só podia ser mulher” quando algo ruim acontece no trânsito (mesmo com estatísticas provando que as mulheres dirigem melhor que os homens por serem mais cuidadosas). Quando eu trabalhava em uma grande empresa recebi como feedback de um gestor que eu precisava me maquiar mais e usar roupas mais “femininas” se quisesse crescer na empresa. Eu sei e concordo com tudo isso.


No entanto, não é sobre discriminação e feminismo que eu quero conversar hoje, embora esse tema muito me encante e seja de extrema importância falar sobre isso (num próximo texto quem sabe). Quero falar sobre o papel que desempenhamos como mãe e pais e que tipo de exemplos estamos gerando dentro dos nossos lares.


Há um tempo eu li umas tirinhas feitas pela cartunista francesa Emma intituladas de “Era só pedir”. Nessas tirinhas Emma relata situações cotidianas que ocorrem dentro das nossas casas onde os “micromachismos” perpetuam. No seu relato ela fala que muitas vezes, quando acusamos os homens de não colaborarem com as tarefas da casa, a resposta que recebemos é “Mas era só pedir.” Para ilustrar o que acontece quando pedimos Emma dá alguns exemplos. Vou citar apenas um aqui.

A mulher pede ao marido que coloque a roupa suja para lavar. Ele prontamente pega a roupa e leva até a máquina de lavar, despeja sabão dentro e coloca as roupas para serem lavadas. Pronto, sua tarefa foi concluída e ele volta a fazer as coisas que lhe dão prazer, afinal, já “ajudou” nas tarefas da casa. Quando a mulher vai desempenhar esta mesma tarefa – colocar a roupa suja para lavar – ela se dirige parta o cesto de roupas, no caminho encontra brinquedos espalhados pela sala e sai juntando. Passa pela cozinha e percebe que precisa organizar as verduras na geladeira e lavar a louça que esta na pia. Quando abre a geladeira para colocar as verduras encontra algumas coisas estragadas e começa a limpar. Percebe então que estão faltando alguns alimentos e vai anotar na lista de compras do mercado. Por fim ela põe a roupa para lavar, depois de duas horas executando diversas outras tarefas da casa. O tempo que o homem levou para colocar a roupa na maquina? 10 minutos. E se você quiser que a roupa seque (caso não tenha secadora) precisa lembrar-se de pedir para ele colocar no varal depois. Esse relato lhe pareceu familiar?


Isso é o que acontece, ainda nos dias de hoje, na maioria das casas. Homens dispostos a colaborar nas tarefas domésticas, desde que as mulheres peçam. Acontece que, esse “era só pedir” gera um desgaste mental tão grande quando o esforço físico de realizar a tarefa? Por quê? Porque quando pedimos algo para alguém precisamos planejar como isso será feito, em que momento e analisar as habilidades da pessoa para quem estamos solicitando aquela tarefa, pois muitas vezes, talvez seja necessário ensina-la. Nossa, só de escrever já fiquei cansada! Então, quer saber? Deixa que eu mesma faço!


Planejar a rotina de um lar é tão exaustivo quanto executá-la. É aqui que precisamos iniciar a mudança. Vamos pensar um pouco sobre isso? Topa vir comigo nessa jornada? No próximo texto vou trazer uma reflexão sobre como podemos mudar essa realidade e passar a criar filhos capazes de pensarem e agirem diferente no futuro.


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