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  • Foto do escritorGabriela Braun

Um tapinha não dói

Resolvi escrever um texto sobre o uso de castigos e punições na educação de crianças e me lembrei dessa frase - “um tapinha não dói” – parte da letra de uma música mais antiga no Brasil. E fiquei pensando sobre isso... o que nos leva a acreditar que um tapa possa não doer de verdade?

Quando Rafael tinha mais ou menos dois anos ele tomou suas primeiras palmadas. Até então, eu verdadeiramente acreditava que uma palmada bem dada no momento certo pode salvar um adulto sem limites no futuro. Nessa fase, se inicia o que muitos especialistas em primeira infância chamam de “terrible two” ou adolescência da criança. Qual pai ou a mãe que nunca enfrentou uma crise de birra ou rebeldia?

Rafael estava na fase de dizer não para absolutamente tudo o que nós propúnhamos para ele. “Quer comer isso? Não! Quer escovar os dentes agora? Não! Vamos tomar banho? Não! Vamos dormir? Não!” Entre tantos nãos, eu tentava sempre negociar com ele formas de chegar ao sim. Como eu negociava? Se você fizer X te dou Y.

Um dia, logo após voltar da escola, havíamos combinado que chegaríamos em casa e ele tomaria banho. Ele concordou e estava tudo certo. Até chegarmos e ele decidir que não queria tomar banho. Conversa daqui, conversa dali, negocia, promete prêmios e nada! Então o peguei no colo e levei para o banheiro entre tapas e pontapés. Enquanto eu ia tirando a roupa ele gritava. A cena já se arrastava por mais de minutos. Cansada, sem saber mais o que fazer, dei três palmadas na sua bunda. Ele me olhou com toda raiva que podia expressar pelo olhar e como um bicho veio pra cima de mim com tapas e chutes. Assustada, eu me perguntava onde estava o meu anjo doce que sempre me enchia de beijos e dava gargalhadas comigo.



Ao ver a cena, o pai do Rafa se aproximou gritando e então tirou o chinelo e deu mais três chineladas nele. Quando parou, as pernas e bunda estavam vermelhas. Ainda assim, ele seguiu gritando e esperneando. E foi desse jeito, entre tapas e choros que eu coloquei ele no Box e dei banho. Quase uma hora depois Rafael ainda chorava, quando dormiu no meu colo, exausto.

Como eu estava? Além de exausta, completamente perdida, com um sentimento de culpa tremendo por ver as marcas das palmadas em seu pequeno corpo. Lembro-me de pensar: batemos e ele não cedeu. Talvez precise bater com mais força quem sabe?

Como era de se esperar, o episodio se repetiu algumas vezes. Em mais duas situações diferentes Rafael apanhou. A única coisa que eu conseguia perceber naquele ato era o fato dele ficar mais acuado e mais revoltado com tudo. A questão era que eu não sabia como fazer diferente. Eu já tinha tentado a parte de fazer combinados, negociar, criar rotina. Simplesmente, tinha vezes que não funcionava. Foi então que eu decidi estudar de verdade sobre isso e um novo mundo se abriu para mim.



Quer saber como eu resolvi as crises de birra, os comportamentos inadequados sem bater ou punir? Te inscreve no meu blog e receba direto no seu e-mail o próximo texto dessa série sobre castigos e punições.

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