Eu nunca havia trabalhado como empreendedora até pedir demissão do meu emprego público em 2018, quando sai para ser consultora em educação não violenta. Meu marido já era empreendedor na época e com minha saída do emprego nossa renda diminuiu para menos da metade. Eu gosto de pensar que diminuiu a renda, mas aumentou a autoestima, o tempo com meu filho e minha paz interior. Essa mudança de emprego me trouxe um importante aprendizado sobre o que era importante para mim, que tipo de vida eu gostaria de levar.
Naquele momento, em que nossa renda reduziu, foi preciso fazer uma série de novas escolhas e ajustes familiares. Algumas coisas decidimos não abrir mão, outras entendemos que poderiam ser modificadas. Para nós, por exemplo, a escola do nosso filho era importante e gostaríamos de manter. Meu grupo de corrida e o clube de futebol do meu marido foram considerados importantes para termos uma qualidade de vida boa. Decidimos diminuir muito a quantidade de consumo em brinquedos, roupas, sapatos, eletrodomésticos desnecessários, tele-entrega de comida com muita frequência e passeios em locais onde consumíamos muito.
Eu lembro claramente que, quando pensei em pedir demissão do meu emprego, eu olhava para as roupas dentro do meu armário, a quantidade absurda de sapatos, mais televisões do que pessoas na casa, eletrodomésticos praticamente inutilizados espalhados pela casa e pensava: pra que eu preciso de tudo isso? Eu trabalhava para dar as melhores coisas para o meu filho e minha família, mas me dei conta que as melhores coisas não podem ser compradas, elas precisam ser vividas. Eu me esforçava, mas estava muito cansada para dar a atenção que meu filho e eu própria merecia. E foi por isso que decidi mudar.
Por que estou contando tudo isso? Porque quando a pandemia começou, tanto eu quanto meu marido já éramos empreendedores e vivíamos da renda que ganhávamos todo mês. Ou seja, para ter dinheiro era preciso trabalhar. E se não trabalhássemos, não teríamos renda, simples assim. E essa foi e tem sido a realidade de muitas famílias no Brasil e no mundo. Talvez seja a sua nesse momento.
Ter passado por todos aqueles ajustes em 2018 nos trouxe um pouco mais de tranquilidade e agilidade para fazer as escolhas que seriam importantes para esse momento que estamos vivendo. Ter clareza sobre o que é de fato importante o que é necessário e o que pode ser substituído ou eliminado ajuda muito na hora de tomar decisões. E foi isso que fizemos, mais uma vez. Colocamos no papel aquilo que era importante, que para nós não gostaríamos de abrir mão, o que poderia ficar suspenso nesse momento e o que poderíamos eliminar.
Meu trabalho já era, em grande parte, feito de forma online, mas do meu marido não. Optamos por ele ficar em casa durante um bom tempo e fomos negociando as contas que tínhamos conforme as empresas iam disponibilizando. Escola reduzindo mensalidade, clubes de futebol suspensos, passeios impossibilitados e assim por diante.
Por isso, eu acredito que a melhor forma de nos organizarmos em tempos de crise (não apenas financeira) é sentar com quem faz parte da família e colocar no papel todos os custos existentes. Após, sugiro que você pegue uma folha e a divida em 3 quadrantes: importante e muito necessário (manter), necessário mas não tão importante (posso abrir mão nesse momento), não é necessário nem importante (posso abrir mão). Com isso, fica mais fácil perceber como a família esta organizada e também se dar conta de que muitas coisas são feitas sem nos darmos conta. Quando você estiver fazendo esse exercício com a sua família, procure pensar nas coisas que efetivamente são importantes para vocês e no que gostam de fazer. Por exemplo: para mim é importante me exercitar. Eu costumava fazer isso na academia, mas com a pandemia foi preciso suspender. Então montei um grupo virtual de amigos que também gostam de treinar e fazemos treinos coletivos virtuais, um ajuda o outro. Meu filho adora filmes e costumávamos ir ao cinema pelo menos umas duas ou três vezes no mês. Com a nova situação, fazemos uma sessão cineminha em casa uma vez por semana, com direito a pipoca e luz apagada. É igual? Não! Mas o que é de verdade importante para você? Para mim, é importante manter meu corpo saudável e por isso me exercito. Consegui manter isso com o apoio de amigos. Para mim é importante estar com meu filho e fazer coisas bacanas, consegui manter isso usando criatividade. Percebe? Mesmo em tempos de crise, se tivermos clareza do que é importante e criatividade para encontrar soluções é possível manter a leveza dentro do lar.
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