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Foto do escritorGabriela Braun

Pandemia, família, finanças

Eu nunca havia trabalhado como empreendedora até pedir demissão do meu emprego público em 2018, quando sai para ser consultora em educação não violenta. Meu marido já era empreendedor na época e com minha saída do emprego nossa renda diminuiu para menos da metade. Eu gosto de pensar que diminuiu a renda, mas aumentou a autoestima, o tempo com meu filho e minha paz interior. Essa mudança de emprego me trouxe um importante aprendizado sobre o que era importante para mim, que tipo de vida eu gostaria de levar.


Naquele momento, em que nossa renda reduziu, foi preciso fazer uma série de novas escolhas e ajustes familiares. Algumas coisas decidimos não abrir mão, outras entendemos que poderiam ser modificadas. Para nós, por exemplo, a escola do nosso filho era importante e gostaríamos de manter. Meu grupo de corrida e o clube de futebol do meu marido foram considerados importantes para termos uma qualidade de vida boa. Decidimos diminuir muito a quantidade de consumo em brinquedos, roupas, sapatos, eletrodomésticos desnecessários, tele-entrega de comida com muita frequência e passeios em locais onde consumíamos muito.


Eu lembro claramente que, quando pensei em pedir demissão do meu emprego, eu olhava para as roupas dentro do meu armário, a quantidade absurda de sapatos, mais televisões do que pessoas na casa, eletrodomésticos praticamente inutilizados espalhados pela casa e pensava: pra que eu preciso de tudo isso? Eu trabalhava para dar as melhores coisas para o meu filho e minha família, mas me dei conta que as melhores coisas não podem ser compradas, elas precisam ser vividas. Eu me esforçava, mas estava muito cansada para dar a atenção que meu filho e eu própria merecia. E foi por isso que decidi mudar.

Por que estou contando tudo isso? Porque quando a pandemia começou, tanto eu quanto meu marido já éramos empreendedores e vivíamos da renda que ganhávamos todo mês. Ou seja, para ter dinheiro era preciso trabalhar. E se não trabalhássemos, não teríamos renda, simples assim. E essa foi e tem sido a realidade de muitas famílias no Brasil e no mundo. Talvez seja a sua nesse momento.



Ter passado por todos aqueles ajustes em 2018 nos trouxe um pouco mais de tranquilidade e agilidade para fazer as escolhas que seriam importantes para esse momento que estamos vivendo. Ter clareza sobre o que é de fato importante o que é necessário e o que pode ser substituído ou eliminado ajuda muito na hora de tomar decisões. E foi isso que fizemos, mais uma vez. Colocamos no papel aquilo que era importante, que para nós não gostaríamos de abrir mão, o que poderia ficar suspenso nesse momento e o que poderíamos eliminar.


Meu trabalho já era, em grande parte, feito de forma online, mas do meu marido não. Optamos por ele ficar em casa durante um bom tempo e fomos negociando as contas que tínhamos conforme as empresas iam disponibilizando. Escola reduzindo mensalidade, clubes de futebol suspensos, passeios impossibilitados e assim por diante.

Por isso, eu acredito que a melhor forma de nos organizarmos em tempos de crise (não apenas financeira) é sentar com quem faz parte da família e colocar no papel todos os custos existentes. Após, sugiro que você pegue uma folha e a divida em 3 quadrantes: importante e muito necessário (manter), necessário mas não tão importante (posso abrir mão nesse momento), não é necessário nem importante (posso abrir mão). Com isso, fica mais fácil perceber como a família esta organizada e também se dar conta de que muitas coisas são feitas sem nos darmos conta. Quando você estiver fazendo esse exercício com a sua família, procure pensar nas coisas que efetivamente são importantes para vocês e no que gostam de fazer. Por exemplo: para mim é importante me exercitar. Eu costumava fazer isso na academia, mas com a pandemia foi preciso suspender. Então montei um grupo virtual de amigos que também gostam de treinar e fazemos treinos coletivos virtuais, um ajuda o outro. Meu filho adora filmes e costumávamos ir ao cinema pelo menos umas duas ou três vezes no mês. Com a nova situação, fazemos uma sessão cineminha em casa uma vez por semana, com direito a pipoca e luz apagada. É igual? Não! Mas o que é de verdade importante para você? Para mim, é importante manter meu corpo saudável e por isso me exercito. Consegui manter isso com o apoio de amigos. Para mim é importante estar com meu filho e fazer coisas bacanas, consegui manter isso usando criatividade. Percebe? Mesmo em tempos de crise, se tivermos clareza do que é importante e criatividade para encontrar soluções é possível manter a leveza dentro do lar.

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