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  • Foto do escritorGabriela Braun

Crianças e animais de estimação, essa mistura dá certo?

Eu sempre gostei muito de cachorro. Lembro que, quando eu tinha mais ou menos uns quatro anos de idade, eu vivia pedindo um para minha mãe. Até que ganhei. Meu primeiro cachorro era todo peludinho, de uma raça que eu não sei o nome e também confesso que isso não foi importante na época. Ele recebeu o nome de Tiburcio Laurindo! Morávamos no interior, uma fazenda, onde havia bastante espaço para ele correr e brincar. Quando eu completei cinco anos de idade nos mudamos para Porto Alegre e o Tiburcio Laurindo não pode vir junto. Mudar de cidade, de amigos, de escola, construir uma nova família... Tudo isso era novidade e eu confesso que fiquei um pouco sem rumo. E eu estava sem o meu cãozinho que era a minha companhia nos momentos de insegurança e medo. Enquanto meus pais não me deram outro cachorro eu não sosseguei. Durante minha infância eu tive alguns amigos caninos... Bobi, Peque-peque (que logo recebeu o apelido de Peco), Brisa, todos vira-latas. E com todos eles eu aprendi um pouco. Lembro de passar horas com o Bobi no colo quando ele ficou doente e não queria comer. Lembro que ver meu pai cavar um buraco no pátio da nossa casa para enterrá-lo foi um dos momentos mais tristes que vivi na minha infância. Bobi me ensinou sobre a dor da perda, a dor de perder alguém que amamos. Peque-Peque foi o mais vira lata de todos! Era pequenino e adorava fazer xixi na casa dos vizinhos e na padaria aonde íamos todos os dias juntos comprar pão. Eu morria de vergonha e estava sempre brigando com ele por isso. Ele também tinha verdadeiro terror de agulhas. Cada vez que precisávamos vacina-lo era uma gritaria... ele latia e eu gritava. A vizinhança chegava a fazer plateia só para vê-lo tomar vacina, de tanta algazarra que fazia. Peco (como eu gostava de chamá-lo) me ensinou a voltar para casa. Eu achava engraçado porque ele foi criado solto, o portão de casa sempre aberto, ele saía, ficava horas fora, mas sempre voltava. Ele foi o cachorro mais inusitado de todos. Morreu velhinho, de um ataque cardíaco ao tentar cruzar com uma cachorra duas vezes maior que ele. Rimos muito juntos e, até mesmo no dia da sua morte demos risada. Um dia, após uma chuvarada que havia inundado nossa rua e deixado a calçada cheia de lama, apareceu em nosso portão, toda molhada e magricela, uma cachorrinha branquinha com bigodes. Podemos ficar com ela? Gritamos eu e meus irmãos para nossos pais. NÃO! Responderam em alto e bom tom. Só por hoje, por favor?! Então ela entrou, só até que arranjássemos outro dono. Mas ali ela foi ficando, ficando... e nunca mais se foi. Brisa foi a cachorra mais inteligente que eu tive. Era rápida, esperta e espoleta. Dava pulos enormes, corria sem parar. Até ser atropelada por um carro e quebrar a bacia. O veterinário disse que ela nunca mais correria ou pularia. Talvez não voltasse a andar. Mas ele não conhecia a Brisa. Ela era diferente, não conhecia o significado da palavra NÃO, então foi lá e fez. Meu pai construiu uma caixa de madeira do tamanho dela, onde só era possível ficar em pé e deitada. Não podia se virar, caminhar, nada. Ali ela ficou por 40 dias. Lembro que eu me sentava ao lado da caixa, ela dentro, eu fora e ficávamos horas conversando. Todos os dias eu e meus irmãos nos revezamos para ficar com ela e limpar a caixa. Até que ela voltou a andar, a correr e a pular mais alto do que antes. Brisa me ensinou a não desistir. Ensinou o verdadeiro significado da palavra resiliência.


Quando meu filho nasceu, nós já tínhamos em casa a Laika e a Fiona. A Laika parecia amar o Rafael quando ele ainda estava na minha barriga. Ela subia por cima de mim, com todo cuidado quando eu estava grávida, prevendo, talvez, que ali naquele corpo habitava outro serzinho. E não foi diferente quando eles se conheceram ao vivo pela primeira vez. Nunca tive medo de deixar meu filho sozinho perto delas porque dava para ver pelo olhar que elas já o amavam. Sempre que o Rafa caía e a Laika estava por perto, ela o empurrava com o focinho como se estivesse dizendo: Levanta, vamos, eu te ajudo! Laika e Fiona ensinam ao Rafael sobre cuidar um do outro, sobretudo, sobre saber amar. Outro dia, enquanto estávamos na cozinha de casa e as cachorras na porta nos olhando eu disse para ele: Filho dá um ossinho para elas. Rafael pegou o osso e já ia jogar longe, quando eu pedi que ele desse, calmamente, na boca delas. Mas elas podem me morder mamãe, ele me disse. Claro que não, elas te amam, retruquei. Ele se aproximou e me disse bem baixinho: eu puxei o rabo delas, acho que não me amam mais. Lembro-me de ter rido muito por dentro e dito a ele: é claro que elas te amam, vai lá, faz um carinho e diz que foi sem querer que você puxou o rabo, elas irão entender. E ele foi.


Animais de estimação ensinam as crianças a serem responsáveis, não apenas com elas, mas com os outros. A aceitar o outro como ele é; do seu jeito. São companheiros para aqueles momentos de tristeza quando não conseguem expressar em palavras o que estão sentido, mas esta tudo bem, porque os bichos entendem mesmo é de sentimentos. São parceiros para as brincadeiras mais criativas que você possa imaginar e, às vezes, é com eles que as crianças aprendem o significado da palavra amizade. Mas, sobretudo, os animais de estimação ensinam sobre amor. E amor é o que mais precisamos nos preocupar em passar para nossos filhos. Crianças que crescem rodeados pelo amor incondicional se tornam adultos confiantes. E quem melhor do que um bichinho de estimação para expressar e ensinar sobre amor?

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