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  • Foto do escritorGabriela Braun

Como os pais podem ajudar os filhos na escola?


Uma das memórias mais vividas que eu tenho da minha infância era os meus pais estudando comigo os deveres que a escola passava. Eles acreditam no ensino como uma ferramenta capaz de libertar a mente e o corpo das amarras que por vezes a vida nos coloca. Por isso, estudar sempre foi uma obrigação lá em casa. E eles se preocuparam em estarem presentes para isso. Minha mãe é professora de matemática e física e posso dizer que ela nasceu para isso. O que faz o olho da minha mãe brilhar é ensinar crianças e adolescentes a compreenderem um pouco melhor o que existe por trás das fórmulas matemáticas que tantas crianças se assustam só de olhar. Ela fez isso com excelência por muitos anos. Uma prova disso foi o fato de ter sido escolhida como conselheira das turmas em que atuava como professora. Quando fazemos o que amamos e nos conectamos com outro estamos educando, sejamos professores ou pais. Assim, minha mãe estudava as matérias “exatas” comigo e meus irmãos e meu pai estudava as matérias “humanas.” Eles estavam sempre presentes e dispostos a ajudar, nos fazer pensar sobre os exercícios propostos.

Outro dia assisti a um vídeo onde os pais e mães de crianças que estavam cursando a quarta série do ensino fundamental foram colocados em uma sala de aula para realizar uma prova com os mesmos conteúdos que seus filhos. Uma das mães disse que se sentiu em pânico, pois estava acostumada a cobrar e não a realizar aquela atividade. Alguns pais disseram que aquela atividade os fez perceber que os filhos precisam de presença, de contato porque o aprendizado esta não apenas nas notas das provas, mas principalmente na forma como aquele conteúdo foi internalizado. No final do vídeo, um dos pais diz que se o filho tira uma nota 6,5 ou 10 toda família tiraria aquela mesma nota, pois todos estão envolvidos no processo de ensino.

Esse é o debate que eu gostaria de fazer contigo. Que tipo de ensino você acredita e pratica com seu filho? Qual o seu papel na vida escolar do seu filho? Para refletir sobre isso é preciso pensar em que filhos estamos querendo deixar para o mundo, porque eles serão os adultos responsáveis por conduzir este mundo no futuro. Então, que adultos estamos criando? Que tipo de educação esta sendo construída com nossas crianças?

No dia das eleições eu fui votar no colégio em que estudei boa parte da minha infância. E fiquei observando a sala de aula e as colagens feitas pelas crianças nas paredes. As salas estavam praticamente do mesmo jeito que eram quando eu estudava lá. Então fiquei pensando em quanta coisa havia mudado no mundo em cerca de 30 anos. Na minha infância não tínhamos telefone celular (na verdade, não tínhamos nem telefone convencional), não havia computadores e internet como temos hoje, nem televisão a cabo. Meus estudos eram feitos em enciclopédias chamadas Barsa, dicionários e livros. E a pergunta que ficou foi: como pode tanta coisa ter mudado no mundo e a escola permanecer praticamente igual? Como se fosse um mundo a parte daquele em que vivemos.

As escolas mais modernas (em sua maior parte escolas particulares) passaram a utilizar tecnologia para monitorar a entrada dos alunos no ambiente escolar, os boletins passaram a ser eletrônicos e hoje conversamos com professores através de uma agenda digital. Nossos filhos assistem imagens através de data show ao invés de retroprojetor ou slides. Em alguns lugares, tabletes são utilizados no lugar de cadernos. Essa foi a atualização escolar. Parafraseando Murilo Gun, se Pedro Alvares Cabral chegasse ao Brasil de hoje, provavelmente ficaria surpreso e assustado com a quantidade de mudanças que ocorreram desde a descoberta do Brasil. Até o momento em que entrasse em uma sala de aula, pois ali ele se sentiria “em casa”, em um ambiente familiar.

Nosso papel como pais e educadores que somos vai muito além de matricular nossos filhos na escola e acompanha-los nessa jornada. Passa também por questionar e construir com eles novas possibilidades de aprendizagem. Aonde o ensino possa ser mais do que decorar um conteúdo e responder questões em uma prova. Mais do que cobrar notas em uma prova, precisamos construir aprendizados. E para que possamos aprender algo de fato é preciso que aquele conteúdo faça sentido para quem esta estudando, tenha conexão com a sua realidade.

Para isso, precisamos estar presentes. E estar presente não significa apenas ficar por perto dos nossos filhos. É preciso estar conectados com eles, enxergar o mundo como eles enxergam e perceber onde esta o maior interesse deles, o que eles gostam e o que não gostam. Em minhas palestras e atendimentos eu gosto muito de perguntar aos pais e mães: do que seu filho gosta e do que ele não gosta de verdade? Por mais incrível que isso possa parecer, muitos não conseguem responder. Preocupamo-nos em nutrir a mente de nossos filhos com os melhores conteúdos e colocar pra dentro a maior quantidade possível de informações. Preocupamo-nos em coloca-los em atividades esportivas e preencher quase todas as horas do seu dia com atividades. Trabalhamos horas a fio para dar a melhor qualidade de vida para eles. E quando chegamos em casa estamos tão cansados que as vezes esquecemos de estar presentes de fato e prestar atenção na essência das nossas crianças, suas habilidades e gostos.

Esse é o nosso papel como pais. Mais do que cobrar notas, precisamos dar a eles liberdade para descobrir o que gostam o que lhes provoca curiosidade, qual conteúdo lhes desperta mais atenção. Sobretudo, como é possível aprender de uma forma diferente da educação tradicional que temos, onde o maior objetivo é preparar as crianças para provas com conteúdos que não se conectam com suas realidades. Nosso papel como pais é criar essa conexão – entre o conteúdo ensinado pelas escolas e a realidade dos nossos filhos. Talvez muito do que é ensinado não faça sentido. E esta tudo bem, porque o que queremos, de verdade, é que eles se tornem verdadeiros curiosos ao ponto de buscar por si só o conhecimento. Se conseguirmos isso, nossa missão como pais será alcançada com sucesso.

Experimente realizar o seguinte exercício: Procure se lembrar de você criança, indo para a escola. Qual a sua sensação? Você gostava? Qual matéria mais gostava de estudar? E qual menos gostava? Por quê? Como você se sentia quando seus pais lhe cobravam notas e que estudasse mais? O que você aprendeu com isso? Agora pense em você como mãe, como pai. Como é a sua relação com seu filho quando o assunto é estudo? De que forma você se comporta? Você acredita que é importante estar junto, conectado com ele? O que você gostaria de ter no lugar do que tem hoje? É possível fazer diferente?


Sim, eu sei, são muitas perguntas. No entanto, mais do que respostas, precisamos aprender a fazer perguntas, porque a chave para a mudança esta na nossa capacidade de questionar. Em minha opinião, somente quando conhecemos de verdade nossos filhos, quando enxergamos sua essência, é que seremos capazes de apoia-los na verdadeira arte de aprender. É quando passamos a levar para dentro da escola nossas vivências, nossas dúvidas e nosso interesse em fazer desse espaço um verdadeiro lugar de trocas de experiências e vivencias, quando entendemos que temos mais a aprender com nossas crianças do ensinar é que a educação acontece e nos tornamos verdadeiros facilitadores do seu aprendizado.

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