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  • Foto do escritorGabriela Braun

Como eu reajo ao que meu filho faz?



maternidade além do infinito, Gabriela Braun, filhos, educação, disciplina positiva

Como pais, nosso compromisso é compreender como as crianças processam as informações que recebem do mundo auxiliando-as a lidarem com suas emoções. Ensina-las a aprender com os resultados das suas ações - algumas pessoas gostam de utilizar a terminologia de aprender com os erros – eu acredito que não temos erros, temos resultados. A palavra erro vem carregada, em minha opinião, do sentimento de fracasso o que, muitas vezes, nos leva a desistir dos nossos sonhos.

Essa é a tarefa mais linda dos pais: fazer com que seus filhos prosperem apesar do medo, da insegurança, de um resultado que não era esperado. Porque quando entendemos que as crianças irão levar tombos, irão se magoar, sentir medo, raiva e tristeza deixamos de ser superprotetores para conduzi-las no caminho das experiências e compreensão do mundo. A forma como nossas crianças entendem suas vidas não tem apenas a ver com o que acontece com elas. Tem a ver também com a forma como os pais e cuidadores reagem ao que aconteceu com elas.

Por isso, tão importante quanto ensinar é nos conhecermos ao ponto de saber quais reações teremos diante do aprendizado dos nossos filhos. Pense em algum fato marcante da sua vida, onde a reação do seu pai ou sua mãe foi essencial para determinar uma ação sua. Quantas crenças você carrega porque seus pais reagiram de determinada maneira quando você fez algo que os desagradou? Vou contar uma história minha para que vocês entendam o que quero dizer com reações e autoconhecimento.

Quando eu estava para concluir o ensino médio (na época segundo grau), precisei decidir qual faculdade iria cursar. O maior valor dos meus pais sempre foi a educação, para eles era importante que estudássemos tudo o que podíamos. Sendo assim, era natural que, ao concluir o ensino médio eu ingressasse na universidade. Esse era o caminho que a sociedade nos colocava também. Na época eu tinha 16 ou 17 anos. Cheia de ideias, de sonhos e com uma certeza: eu precisava fazer uma faculdade. Sempre gostei muito de ler e quando fiz o teste vocacional na escola foi apontado que eu deveria ir para a área de humanas. Como adorava assistir aquele seriado norte americano – Law & Order – decidi que iria cursar direito. Até aí tudo bem. Direito era um curso conceituado e, provavelmente, eu iria ficar bem. Foi quando conheci um professor de história e me apaixonei pela sua forma de ensinar. E decidi que queria aquilo para minha vida. Queria aquele brilho nos olhos que ele tinha quando dava aula de história (se eu me conhecesse bem naquela época, talvez tivesse entendido que o que me encantou foi o brilho no olho ao desempenhar a sua profissão e não a aula de história... enfim... tudo ao seu tempo). Cheguei em casa então e, durante um café da manhã, resolvi dar a noticia aos meus pais... Iria cursar história! Pensem nas caras de decepção. Conhece a expressão o corpo fala? Pois é, os corpos dos meus pais falaram. E as bocas também.

Hoje eu entendo a reação deles. Eles queriam me proteger. Acreditavam nisso e precisavam disso para se sentir seguros. Tinham medo porque minha mãe foi professora a vida toda e sentiu na pele as dificuldades e desvalorizações que os professores enfrentam em nosso país. Qual pai quer isso para seu filho? Acabou que eu optei por fazer o vestibular para historia e direito, em diferentes universidades. Não conclui o curso de direito porque não conseguia me identificar com ele. Mas o curso de historia? Fui até o fim. Identifiquei-me com ele? É um curso lindo, mas durante o tempo todo eu sentia que faltava algo. Eu via um brilho no olho dos meus colegas e não conseguia achar o meu. Eu poderia ter procurado outra coisa, outro curso? Poderia, com certeza. Só que cada vez que eu pensava em mudar sabe o que eu lembrava? Dos meus pais. Da reação deles. Então eu precisava ir até o fim, para provar a eles que eu estava certa. Fruto da minha falta de maturidade, fruto da minha insegurança, fruto da minha falta de propósito.

Ah, entendi Gabriela! Você esta dizendo que os pais são responsáveis pelas angustias dos filhos? Em parte sim. E tá tudo bem, porque não tem jeito, não temos bola de cristal, não temos manual de como criar filhos. Vamos ter resultados que não esperávamos? Sim, com toda certeza. E esta tudo bem, se souber lidar com isso. O que gera sofrimento é a forma como resolvemos nos relacionar com as decisões que estão além daquilo que estamos prontos para aceitar. E aqui, temos escolha. Podemos escolher não sofrer. Podemos escolher acompanhar, observar, estar próximo ou simplesmente deixar a pessoa livre para seguir.

Por isso, quando eu falo em observar a forma como reagimos aos nossos filhos, tem a ver com perceber que isso interfere nas suas escolhas também. Não queremos decepcionar quem amamos. Uma criança não quer decepcionar quem mais lhe da amor no mundo. E, muitas vezes, acreditamos ser mais fácil decepcionar a nós mesmos do que decepcionar quem amamos. Quando aprendemos a ter autocontrole em situações adversas estamos dando exemplo aos nossos filhos. Para isso, é necessário autoconhecimento, só assim conseguiremos controlar nossas reações.

Ensinar uma criança a controlar as suas emoções e reações talvez seja o maior aprendizado que possamos passar para ela. Encoraja-la a se conhecer fortalecerá seu propósito de vida que, no fim das contas, é o que fará o olho do seu filho brilhar. Lembre-se que “as palavras ensinam, os exemplos arrastam.” Se você quer que seu filho tenha autocontrole, demonstre que você tem. Se você quer que seu filho se compreenda, mostre a ele que você se compreende. Se você quer que seu filho tenha brilho no olho, mostre o seu brilho para ele.

“A formação dos nossos filhos depende das informações que eles recebem diariamente do ambiente que os cercam. Isso significa que as crianças crescem e se desenvolvem por espelhamento, aprendendo com o que observam do comportamento dos seus pais e responsáveis. Os estudos neurocientíficos evidenciam que a interação dos pais com seus filhos estimula o desenvolvimento cerebral, o crescimento emocional e a aprendizagem.”

Daniel J. Siegel e Tina Paybe Bryson

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